A palavra kata, do japonês, significa “forma”. Mas, na prática, é muito mais do que isso. O kata é a raiz das técnicas do judô e de qualquer outra arte marcial. Trata-se da execução em sequência de uma série de golpes respeitando normas estéticas, de etiqueta e a origem das técnicas; ou seja, preserva-as conforme sua concepção.

Por simular combates entre duas ou mais pessoas, em algumas oportunidades com oponentes armados, o kata leva o praticante a executar os golpes com os judocas em movimento, fazendo-os dentro de uma fôrma ideal, que aumenta as chances de sucesso em sua aplicação. Dessa maneira, o judoca se aproxima da perfeição do uso dos golpes mesmo em treino-livres (randori) e competição (shiai).

A disciplina, o treino exaustivo e a máxima atenção aos detalhes são imprescindíveis aos que desejam fazer corretamente os kata. Por isso, o domínio do corpo, tanto de quem projeta o oponente (tori), quanto de quem é projetado (uke), é indispensável.

Dessa forma, não apenas o tori desenvolve seu judô. A imposição da queda (ukemi) ao projetado leva-o a aprimorar esse fundamento de suma importância. Afinal de contas, quanto menos medo de cair tiver o judoca (o que só se consegue com o domínio da técnica do ukemi), maiores são as chances de que ele desenvolva suas técnicas de projeção, de ataque, no randori.

O fato é que os kata são um exercício indispensável ao judoca, não apenas porque o coloca em contato com a raiz técnica da arte e o aprimora para outras práticas inerentes ao judô como o treino-livre e as competições, mas porque o leva a desenvolver atributos (disciplina, dedicação e concentração) que o fortalecerão para o cotidiano.

Ao todo, os kata do judô são oito, tendo cada qual a finalidade de aprimorar um aspecto técnico diferente do judô.

• Nage-no-kata: formas fundamentais de projeção, baseadas nos cinco gokyo (conjunto essencial de técnicas de projeção do judô). Seu domínio é obrigatório para ser admitido à faixa preta.

• Katame-no-kata: formas fundamentais de técnicas de solo (imobilizações, estrangulamentos e golpes nas articulações). Seu domínio é essencial para se chegar ao 2º Dan, entre os homens, e ao 3º, entre as mulheres.

• Kime-no-kata: formas fundamentais de combates reais e, naturalmente, um kata de defesa pessoal, com técnicas adequadas ao momento histórico vivido por Jigoro Kano. Observa-se, por exemplo, uma série de técnicas que se inicia com os adversários ajoelhados (os japoneses realizavam suas refeições de joelhos). Seu domínio é essencial para se chegar ao 4º Dan.

• Ju-no-kata: formas de agilidade aplicadas em ataque e defesa, fazendo uso dos princípios basilares do judô, sobretudo da flexibilidade. Seu domínio é essencial para se chegar ao 2º Dan, entre as mulheres, e ao 3º, entre os homens.

• Koshiki-no-kata: forma antiga, já praticada no jujutsu, e que remete à luta entre samurais fazendo uso de armadura.

• Itsutsu-no-kata: forma cujos movimentos desenvolvidos por Jigoro Kano buscam reproduzir elementos da natureza, numa tentativa de aprofundar a conexão entre os praticantes de judô e o meio a que integram.

• Seiryoku-zenko-kokumi-taiiku-no-kata: forma cuja execução dos golpes visa, sobretudo, o treino completo do corpo.

• Kodokan Goshin-jutsu: sintetiza os melhores instrumentos de defesa pessoal do judô e também do aikido, do karate e de outras artes marciais. Seu domínio é essencial para se chegar ao 5º Dan.

Sensei Rioti Uchida, o professor do Judô Alto da Lapa, dezoito vezes campeão mundial de kata (ao lado de Luis Alberto dos Santos), acredita que o kata tem outro mérito: estimular o espírito colaborativo das pessoas, já que, diferentemente das competições de shiai, no kata não são duas pessoas tentando subjugar uma a outra, muitas vezes aguardando a falha do adversário para conquistar a vitória.

“No kata, não há adversário, há um parceiro e, se ele for perfeito e você não, ou o contrário, os dois perdem. É um trabalho em equipe e ambos precisam ir bem juntos.” – Rioiti Uchida